terça-feira, 6 de setembro de 2011

ATIVIDADES DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

 

A Leitura e sua Importância

Ler é uma atividade bem mais complexa do que parece.Se, por um lado, ela pode ser compreendida como reconhecimento e identificação de sinais, por outro, inclui o processo de interpretação do que está além do literal.
   Assim como a linguagem pode ser gestual, oral e escrita, a leitura também vai além do universo da palavra. Podemos fazer a leitura de um gesto, de um olhar, de um modo de caminhar, de uma pintura, de um estilo de roupa, assim como de um texto escrito ou oral.
   Lemos de tudo o tempo todo. Como afirma o escritor argentino Alberto Manguel, “lemos a nós e o mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial”.
   No mundo em que vivemos, a leitura perpassa cada uma de nossas atividades, individuais e coletivas. Verbais, não verbais ou mistos, os textos estão presentes e se cruzam incessantemente em meio ao nosso dia-a-dia.
   Dessa forma, não se pode negar a importância e o valor das habilidades de leitura para o ser humano. É por meio de textos que convivemos com outras pessoas, esclarecemos nossas opiniões, transformamos nossos pontos de vista e até modificamos comportamentos alheios.
   Mas, para isso realmente ocorrer, não basta produzir e receber textos. É preciso saber relacioná-los e compreendê-los em meio a determinados contextos sociais. Uma frase de efeito, por exemplo, pode não obter o mesmo êxito comunicativo dependendo das pessoas as quais ela é proferida.
   Essa habilidade de interpretação textual sempre foi fundamental para a evolução humana. Porém, com o desenvolvimento da internet e das diversas tecnologias de informação disponíveis, a competência leitora se tornou algo primordial para quem deseja crescer tanto no âmbito pessoal como profissional.
   Como afirmou o escritor americano John Simon, “Tudo vem da linguagem, pela linguagem e através da linguagem. Quem não tem uma linguagem nada tem. Sem palavras, não podemos pensar, interagir, expressar sentimentos. É com elas que deixamos nossa marca no mundo”.

O livro é passaporte, é bilhete de partida!

Desconheço liberdade maior e mais duradoura do que esta do leitor ceder-se à escrita do outro, inscrevendo-se entre as suas palavras e os seus silêncios. Texto e leitor ultrapassam a solidão individual para se enlaçarem pelas interações. Esse abraço a partir do texto é soma das diferenças, movida pela emoção, estabelecendo um encontro fraterno e possível entre leitor e escritor. Cabe ao escritor estirar sua fantasia para, assim, o leitor projetar seus sonhos.
   As palavras são portas e janelas. Se debruçarmos e repararmos, nos inscrevemos na paisagem. Se destrancarmos as portas, o enredo do universo nos visita. Ler é somar-se ao mundo, é iluminar-se com a claridade do já decifrado. Escrever é dividir-se.
   Cada palavra descortina um horizonte, cada frase anuncia outra estação. E os olhos, tomando das rédeas, abrem caminhos, entre linhas, para as viagens do pensamento. O livro é passaporte, é bilhete de partida.
   A leitura guarda espaço para o leitor imaginar sua própria humanidade e apropriar-se de sua fragilidade, com seus sonhos, seus devaneios e sua experiência. A leitura acorda no sujeito dizeres insuspeitados, enquanto redimensiona seus entendimentos.
   Há trabalho mais definitivo, há ação mais absoluta do que essa de aproximar o homem do livro?
   Reconheço, porém, um momento em que se dá o definitivo acontecimento: a certeza de que o mundo pessoal é insuficiente. Há que buscar a si mesmo na experiência do outro e inteirar-se dela. Tal movimento atenua as fronteiras e a palavra fertiliza o encontro.
   Acredito que ler é configurar uma terceira história, construída parceiramente a partir do impulso movedor contido na fragilidade humana, quando dela se toma posse. A fragilidade que funda o homem é a mesma que o inaugura, mas só a palavra anuncia.
   A iniciação à leitura transcende o ato simples de apresentar ao sujeito as letras que aí estão já escritas. É mais que preparar o leitor para a decifração das artimanhas de uma sociedade que pretende também consumi-lo. É mais do que a incorporação de um saber frio, astutamente construído.
   Fundamental, ao pretender ensinar a leitura, é convocar o homem para tomar da sua palavra. Ter a palavra é, antes de tudo, munir-se para fazer-se menos indecifrável. Ler é cuidar-se, rompendo com as grades do isolamento. Ler é evadir-se com o outro sem, contudo, perder-se nas várias faces da palavra. Ler é encantar-se com as diferenças.

Bartolomeu Campos Queirós
In: PRADO, Jason et CONDINI, Paulo (orgs.) A formação do leitor - pontos de vista.
Rio de Janeiro: Argus, 1999.